terça-feira, 15 de maio de 2012

No ônibus

Nada como um ônibus lotado. Não, isso não é agradável, mas é o tipo de coisa que tenta meus olhos observadores e minha mente. Estar em um ônibus é como um passeio por aquela “festa estranha, com gente esquisita”. Você não quer, mas vai.  O melhor a fazer é ler um livro ou apelar para os fones de ouvido, ouvir uma boa música, talvez. Digo talvez, pois sempre esqueço os fones em casa, mas um livro... ah, sempre tenho um em minha enorme bolsa.

Hoje quando entrei no ônibus, procurei meus fones e... ficaram em casa, pra variar. Então, peguei um livro.  Estava lendo algumas crônicas do Affonso Romano de Sant’Anna. Gosto dele.  Talvez porque esse velho  também tem um olhar super observador, sob óticas variadas.

Lia a crônica “A metafísica da barba”, - o título chamou minha atenção porque adoro barbas - quando no ônibus entra um homem  munido de uma bela barba,  pensei: Affonso, isso é coisa sua! Fiquei observando o moço. Parecia inquieto, dessossegado. Imaginei: É dos meus.

Passou um certo tempo, o homem abriu a bolsa que carregava, talvez para pegar um fone de ouvido, ou quem sabe um livro – ah, essa minha imaginação. Ele pegou seu celular, talvez para digitar uma mensagem para uma amiga, namorada, amante, ou algo do tipo, mas não. Não! O bendito, resolveu compartilhar seus gostos musicais com a multidão – sim, multidão, pois aquele ônibus estava mais cheio que  show de sertanejo gratuito.  

Chico Buarque,  João Gilberto, Vinicius de Moraes, Los Hermanos, Marcelo Camelo, The Beatles, Jerry Lee, Elvis, Little Richard, como eu sonhava ouvi-los. Pobre de mim. Tive uma decepção. Das grandes.

O barbudo não passava de um funkeiro – eu juro, não parecia – foi uma das maiores surpresas que  tive nos últimos dias. Ele ouviu  um tal de “ela dá pá nóis que nóis é patrão”. EU QUIS MORRER. Fones de ouvido,  era só o que eu queria naquele momento, para eu ouvir minhas músicas, já que ler  não era mais possível, ou até mesmo para presentear  o rapaz.

Sabe, no momento lembrei de Renato Russo e a famosa música Pais e Filhos. Vocês se recordam do trecho “é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã”? Pois bem.  Como amar um funkeiro? As letras de funks são tão  vulgares, melodias horrendas, de baixo calão.  APOSTO, EU APOSTO!  Renato Russo não conhecia funkeiros quando, emocionado, cantava  este trecho.